Eu sei que ao sair na rua de noite você sente medo, eu também sinto.

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Vivemos atualmente numa sociedade baseada na produção do medo. Eu sei que ao sair na rua de noite você sente medo, eu também sinto. Na mídia vemos histórias de violência espetacularizadas, na internet fotos explicitas de vitimas de crimes brutais nos aterrorizam.

E esse medo nos divide de uma forma perversa. Não tem vencedor nesta lógica da produção do medo.

Dentro dela a redução da maioridade penal é a institucionalização do medo contra uma juventude que é vitima de uma sociedade cada vez mais desigual. Nós temos problemas e eles precisam ser tratados com boas propostas. Mas não há maneira de faze-lo se formos guiados pelo medo, vingança, desespero e irresponsabilidade.

Não somos contra a redução porque não sofremos com a violência, pelo contrário. Somos contra a redução porque queremos procurar respostas efetivas para esse problema social, respostas que vão até a raiz da questão.

Nossa juventude negra e pobre é mais assassinada do que assassina. Jovens brasileiros são as maiores vítimas de homicídios. De acordo com o último Índice de Homicídios na Adolescência (IHA)¹, entre 2013 e 2019 a previsão é que 42 mil vidas adolescentes serão perdidas nos municípios com mais de 100 mil habitantes. O índice comprovou ainda que adolescentes negras/os ou pardas/os possuem aproximadamente três vezes mais probabilidade de serem assassinadas/os do que adolescentes branca/os.

Diante desses dados fica claro que nós não devemos temer a juventude e sim ter medo por ela.

A Constituição Federal estipula, no seu art. 227: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

Reduzir a idade penal é admitir nossa derrota enquanto nação. Nosso país se quer consegue assegurar à criança e ao adolescente os direitos básicos constitucionais, entretanto pretende investir em encarceramento e mais exclusão. Pense outra vez… A redução é o caminho para resolver nossos problemas? Devemos descontar nosso medo da violência na juventude?

Fonte:
1- http://prvl.org.br/wp-content/uploads/2015/01/IHA_2012.pdf

Um debate sério, com argumentos e dados concretos

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Reduzir a maiorida
de penal é abrir mão da juventude. Nós queremos disputar cada menina e cada menino e vê-los nas escolas. Faltam políticas públicas adequadas para nossas crianças. É importante ressaltar que os adolescentes são responsáveis por menos 2% dos crimes cometidos contra a vida, e eles já são julgados e penalizados por seus crimes a partir dos 12 anos – inclusive com privação de liberdade, no sistema socioeducativo.

O Brasil já tem a terceira maior população carcerária do mundo, e isto não resultou na diminuição da violência. Aliás, em nenhum país que reduziu a idade penal apresentou melhorias em seu índice de violência. Redução não é a solução. Este é um debate que precisa ser feito com seriedade, com argumentos sólidos com base em dados concretos da realidade.

Quer saber mais? Então pega ai alguns textos sobre o tema no nosso post mini biblioteca. 😉

  • 18 razões para ser contra a redução.
    Esse texto dá diversos argumentos contra redução, por tópicos e bem explicadinho faz um panorama geral.
  • A redução como mito e ideia falsa.
    O autor faz um passeio sobre como a ideia de que a redução diminui a violência é um mito, e faz considerações sobre o sistema carcerário.
  • Duas cartilhas contra a redução com explicações mais completas e de fácil entendimento:
    Cartilha do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará, aqui.
    Cartilha produzida pelo mandato do deputado Marcelo Freixo do RJ, aqui.
  • Justiça ou vingança?
    Texto da psicanalista Maria Rita Kehl que faz considerações sobre o histórico de violência no nosso país e sobre quem são as vítimas dessa politica de encarceramento em massa.
  • A juventude está sendo brutalmente assassinada e essa juventude tem cor e classe social. Nossos adolescente são muito mais vítima do que criminosos.
    56 mil pessoas foram assassinadas em solo brasileiro em 2012, sendo 30 mil jovens e, entre eles, 77% negros. “Os números surpreendem e são um reflexo de uma “cultura de violência marcada pelo desejo de vingar a sociedade”, conta Atila Roque, diretor-executivo da base brasileira da Anistia Internacional.”